O senhor em frente ao Instituto Neo-Pitagórico
Só quando o sol do meio-dia vence as árvores do Instituto Neo-Pitagórico, projetando na calçada oposta uma luz entrecortada de sombras, que aquele senhor senta em sua cadeira de plástico branca, na grama em frente à sua casa. É a mesma hora em que saio para caminhar e acabo passando por ali.
O Instituto ocupa todo o quarteirão e, de fora, só é possível enxergar o topo das árvores e a fachada, ainda bem conservada. Ele foi fundado por Dário Veloso, um poeta simbolista do século passado, para funcionar como um local de reuniões, estudos e palestras. Hoje está inativo e sei apenas que os herdeiros moram nos fundos. A imponente construção é o orgulho e o mistério da Vila Izabel.
Talvez aquele senhor seria a testemunha de ocorrências interessantes, pensei entusiasmado. Quem sabe um dia ele viu um homem pulando o muro e saindo de dentro com algo entre as mãos. Ou uma ave multicolorida, com um bico largo, que fugiu de lá e ficou buscando alimento ali na grama. Talvez algo mais trivial, como uma mulher que bateu palma e a porta milagrosamente se abriu.
Neste demorado processo que é o curitibano conhecendo outra pessoa, decidi, com uma resolução excessiva, que no próximo dia de sol iria cumprimentá-lo.
- Opa, tudo bem?
Antes que ele respondesse, notei que sua mão direita ficava pousada na coxa esquerda, revelando provavelmente uma sequela. Ele conseguiu se virar um pouco na minha direção, sorrindo de leve, e balançar a cabeça, o suficiente porém para demonstrar que eu poderia continuar a conversa.
- Me diga uma coisa, o senhor sabe alguma coisa desse Instituto aí?
A resposta demorou e observei sua sobrancelha se contraindo, demonstrando certo esforço para o raciocínio. Ela veio quase sussurrada e tive que me aproximar para ouvir bem:
- Do outro lado.
Foi assim, uma afirmação oblíqua que me obrigou a interpretar melhor. Claro, ele se referia ao portão do outro lado, por onde a família do Dário Veloso entra e sai de carro. Ali eu conseguiria informações mais precisas. Eu agradeci, disse “boa tarde” e ele assentiu com um “sim”, sorrindo novamente.
De alguma forma, eu já sabia que, para saber mais do Instituto, deveria naturalmente perguntar aos responsáveis por cuidar dele. Mas aquele templo silencioso, a variedade de suas árvores, as dezenas de espécies de aves e a família dos herdeiros ao fundo eram só pretexto para eu conhecer aquele senhor.
Faz frio em Curitiba e por isso ele fica mais dentro de casa. Mesmo assim, consigo vê-lo sentado no sofá, assistindo TV, com um cachorro deitado no tapete. Ele deixa a porta aberta e lá de dentro consegue responder, lentamente, aos meus acenos ali da calçada.