Há um grupo de Whatsapp, de grandes escritores, grandes tradutores, grandes roteiristas, grandes editores, dentre outros, que resolveu convidar também o grande cronista da Vila Izabel. Cronista que deve muito de sua grandeza ao pioneirismo e portanto à falta de concorrência. De toda forma, permanece lá, trocando mensagens com o grande Claudio Shikida, um dos membros. O dono da newsletter que é um jornal inteiro, com várias editorias, de Cultura à Economia. Poderia ser chamada de “O Shikida”, se ele quisesse um título pomposo.
Então, o Shikida anunciou no grupo que chegaria em Curitiba, nos próximos dias. Meu curitibanismo social autorizou, de imediato, que eu fingisse não ter lido, o que me libertaria do fardo de me relacionar socialmente. Porém, preferi guardar essa autorização para uma outra oportunidade, para quem sabe quando o anunciante fosse alguém que não escrevesse bem. Shikida escreve bem. Mandei mensagem, sugerindo uma cerveja e ele aceitou de pronto.
Outro membro do grupo, também dono de uma grande newsletter, é o Orlando. Com este, eu já conversava, seja para roubar opiniões literárias, que as exibo em outros lugares como minhas, seja para especular traços físicos de um ex-alcoólatra, ou de um delegado carioca da década de 70. Pelas fotos que aparecem no grupo, vejo que os dois convivem com certa frequência, especialmente quando Shikida, mineiro, vai a São Paulo, ali na Mooca. Assim, achei razoável perguntar:
- Orlando, o que eu posso esperar, em termos de Claudio Shikida?
- Um cara excelente. Muito engraçado. Você vai gostar dele. Economista, liberal, torcedor do Cruzeiro, do Pelotas e do Juventus.
Mesmo que ninguém veja a excelência de mãos dadas com um torcedor do Pelotas, tampouco um liberal muito engraçado, confiei. Até porque Orlando, também, escreve bem. Foi aqui que pensei se não estaria atribuindo virtudes demais a sujeitos que simplesmente têm mais cuidado ao redigir. Após o encontro com Shikida, refletiria a respeito. Escrevendo os pensamentos no caderno, naturalmente.
Shikida chegou e soube que o grande jornalista do grupo o havia levado, no dia anterior, pelo roteiro curitibano tradicional. Aquele do Bar do Alemão, da Rua XV de Novembro e do Café Avenida. Assim, sobravam duas opções: alongar o roteiro, para quem sabe apresentar o Jardim Botânico, ou pensar, ou escrever, outro. A ideia de contemplar flores com um homem me levou à segunda.
Sendo o Claudio Shikida, como você, um dos leitores desta newsletter, sugeri um lugar na Vila Izabel. Conveniente geograficamente para mim, um pouco menos para ele, apostei que ele gostaria de um bar que homenageasse um clube de futebol antigo. O “Beca”, sigla para “Bloco Esportivo Capão da Amora”, é um histórico time aqui do bairro, que fechou as portas e tomou a acertada decisão de abrir um boteco.
E o Orlando estava certo. O Claudio Shikida é excelente, muito engraçado e gostei dele. Vale observar que, sim, ele é japonês e o país foi tema da conversa. Descobri o blues de lá, recebi indicações de filmes do John Woo e até de Karaokês em São Paulo.
Agora, sei que, quando estiver em Belo Horizonte, vou mandar mensagem. E tomara que ele ache essa crônica bem escrita.
Ahá! Desconfio que o Shikida gostou muito. Afinal...o que o Claudio Shikida anda lendo, meu Deus?!
Agora o sr. Badé que se vire com a legião de pelotenses que quer conhecê-lo e, se derem sorte, contemplar flores com ele.