O Instituto Neo-Pitagórico funciona como um bioma aqui do bairro. Conserva a biodiversidade, com suas diversas espécies de aves. As árvores recebem a tímida luz do sol curitibano, convertendo em um oxigênio mais extrovertido. Também ele age sobre o clima, geralmente úmido, acompanhado de um vento constante, especialmente nas ruas do entorno. Por fim, eu acrescentaria outra influência, ainda pouco estudada, que por ora classifico como “irradiação de silêncio”. A Vila Izabel é um bairro, fundamentalmente, e por influência do Instituto, silencioso.
A centenária construção ocupa o quarteirão inteiro e é formada por um imenso jardim, um templo e uma pequena casa, habitada pelos descendentes de Dario Vellozo, o idealizador de tudo aquilo. Mas, diferente de uma “Escola de Atenas”, não se vê ninguém por ali, sentado a divagar suas filosofias. Há tentativas de fomentar os debates, mas as reuniões são muito espaçadas. No imenso jardim ao lado, tampouco se ouve senhoras comentando sobre a colheita da estação. O Instituto permanece quieto e o bairro respeitou a decisão: curvou-se ao silêncio.
Assim também, ali fora, as largas calçadas não são ponto de encontro de ninguém. Caminhando, você passa por outro transeunte, que provavelmente vai desviar o olhar para o chão. Nos bares, nada é tão rejeitado quanto música ao vivo. Até nas sacadas dos prédios, você poderá ouvir o carvão queimando, mas dificilmente uma JBL ligada no Bluetooth. Às dez da noite, a lei do silêncio não é só obedecida, mas reverenciada.
Dorme-se bem por aqui, é verdade. Os corretores de imóveis ostentam a quietude como uma característica sem igual, provavelmente a incorporando ao valor final da compra. Os jovens casais se olham e assinam o contrato, imaginando que seus filhos terão noites tranquilas. E, provavelmente, terão mesmo.
Porém, nem os corretores, nem o jovem casal, irão conhecer o outro lado, mais sombrio, da “irradiação de silêncio”. A não ser que, improvavelmente, frequentem as ruas, as estranhas distribuidoras e os bares suspeitos do bairro. Porque o silêncio pode deixar os pensamentos altos demais - quando a razão não aguenta e resolve fugir. Por isso, a Vila Izabel é um bairro de desatinados.
São tantos que é possível agrupá-los em tipos. Há os aposentados que habitam as casas mais antigas, de madeira e cerca baixa, resistindo às investidas de farmácias e construtoras. Preferem se agarrar ao passado, do que assinar contratos generosos e de longo prazo. Há viúvas, de certa beleza, que resistem a todos os cortejos. Preferem a companhia de cachorros, gatos e, uma delas, até de um papagaio, que repete insanidades. Por fim, os bêbados, que vivem a cantar sambas tristes, declamar seus monólogos e blasfemar contra a ex-mulher.
Mas Dario Vellozo deixou uma lição, que alguns aprenderam, e são estes que nunca enlouquecem. É no final da tarde, na dobra do dia, que o Instituto ganha um tom violáceo, os pássaros cantam com mais constância e alguma conversa se inicia. A luz do sol não cega e a cortina da noite ainda revela uma fresta. O fio da razão se mantém silencioso, mas suficientemente suspenso.
Nessa vc se superou! Paz : Essa foi a sensação!